05 dezembro 2008

Das origens do Ju-Jitsu ao Judo III

É entre 1886 e 1889, no dojo de Fujimi-Cho, em Tóquio, que a supremacia do judo Kodokan se iria estabelecer, sobretudo depois do grande torneio entre judocas e combatentes seleccionados pela escola Yoshin-ryu-ju-jitsu, que foram completamente derrotados. Foi nesta altura também que se realizaram verdadeiras fusões de velhas técnicas sob o impulso de Kano que modifica certas técnicas, à luz das suas primeiras experiências e com a ajuda dos seus primeiros alunos.


Em 1889 faz a primeira demonstração de judo em França que passou despercebida. O Kodokan continuou a crescer de ano para ano e foram criados novos centros de ensino. Em 1895, Kano, de forma a facilitar o processo de aprendizagem, organiza uma pedagogia do judo, o Gokio, classificando as técnicas de projecção em cinco grupos (go-kyo-no-waza), com a ajuda de Yoko-Yama, Yamashita, Nagaoka e Iitsuka. A crescente popularidade do judo que era muito praticado por estudantes, leva as universidades e as escolas profissionais a interessarem-se por ele e foi criada uma federação universitária, o Kosen. Esta desenvolveu-se igualmente, independente do Kodokan.


O judo ficou em pouco tempo a fazer parte dos desportos escolares obrigatórios e iria deixar de ser um desporto de moda exclusivo do Kodokan, cujos principais rivais foram o Butokukai de Kyoto e o Kosen, que eram especialistas no combate no solo e aí obtinham supremacia.


A partir de 1905, após a vitória do Japão sobre a Rússia, o interesse pela cultura estrangeira declinou e o nacionalismo reapareceu.


O judo beneficiou desta renovação da tradição nipónica. As Universidades e posteriormente as escolas irão ensiná-lo. Kano estabelece em 1907 no Butokukai os três primeiros kata do judo. O Nage-no-kata, o Kime-no-kata e o Katame-no-kata vêm juntar-se ao Ju-no-kata e ao Itsusu-no-kata, elaborados em 1887. O judo feminino aumenta. Cedo é formada uma secção feminina.


Em Julho de 1909, num encontro histórico, reúnem-se 17 membros do Butokukai e 4 do Kodokan para estabelecerem os kata. O Botokukai recusa-se a admitir os kata do Kodokan. No entanto, após uma semana e algumas adaptações os kata do Kodokan foram admitidos oficialmente.
Em 1909 Kano torna-se membro do Comité Olímpico Internacional. Em 1912 e 1913 é enviado em missão cultural à Europa e à América. Durante os Jogos Olímpicos de Estocolmo, em 1912, explica o seu método a Pierre de Coubertain. Funda em 1915 a revista do Kodokan.


Em 1919 o Kodokan foi reconhecido oficialmente como instituição de âmbito desportivo, enquanto Jigoro Kano desenvolvia o aspecto cultural e científico do judo, criando comités de estudo especializados, dedicando-se particularmente à formação de professores para dotar o judo com quadros de valor.


Em 1920 Kano consagra-se inteiramente ao judo e reorganiza definitivamente o gokio, um sistema pedagógico fixo, com a ajuda de uma dúzia dos melhores mestres. O gokyo engloba as 40 projecções fundamentais e permanece inalterado até aos dias de hoje. Com o passar dos tempos, o kendo e o judo passaram a integrar o currículo escolar e em 1931 tornaram-se disciplinas obrigatórias para rapazes, em todo o país. Em 1932 Kano desloca-se aos Estados Unidos para assistir aos Jogos Olímpicos.


Participa duas vezes no Conselho dos Jogos Olímpicos que lançará os convites para os jogos japoneses, em 1932 e 1934. Neste mesmo ano, Kano organiza o primeiro campeonato de judo do Japão que alcança um grande êxito e consagra o judo como um desporto moderno de combate.


A 4 de Maio de 1938 morre, vítima de pneumonia, a bordo do navio S. S. Hikawa Maru na viagem de regresso do Cairo, onde se realizara a assembleia geral do Comité Internacional dos Jogos Olímpicos, que tinha aceite a sua proposta de realização dos 12º Jogos Olímpicos em Tóquio.


Ironicamente, os 12º Jogos Olímpicos, a serem realizados no Japão, tão desejados por Kano, foram cancelados devido à Segunda Guerra Mundial. À data da morte de Jigoro Kano, em 1938, no Japão, havia cerca de 120.000 judocas recenseados, dos quais cerca de 90.000 eram cintos negros.


Com a ocupação militar das forças aliadas no final da guerra a prática de artes marciais com origem no Bushido foi proibida no Japão e na Alemanha, para evitar um ressurgimento militar. Os judocas não se podiam treinar senão nas escolas. Após estes anos negros os clubes de judo reapareceram com uma nova orientação educativa e desportiva. Desenvolve-se então surpreendentemente por todo o mundo.


Em 1946 os professores do Kodokan foram autorizados a ensinar judo às tropas americanas. Depois o judo foi permitido na condição de se apresentar, não como uma arte marcial, mas como um desporto.


O novo judo japonês iria expandir-se pelo mundo inteiro em pouquíssimo tempo.


Após a segunda guerra mundial o público, ainda condicionado pela agressividade de tantos anos de hostilidade, sentia inconscientemente a vaga necessidade de se defender, de estar armado, de se sentir forte. Sem o saberem foi este o fenómeno psicológico explorado pelos pioneiros do judo.


A fórmula “A defesa do fraco contra o agressor” fez furor. Iniciou-se o período mágico do judo. Os primeiros cintos negros franceses ensinavam na Bélgica, Espanha, Países Baixos, Espanha. Japoneses altamente graduados, vieram de passagem ou até mesmo para se instalarem na Europa.


Pouco a pouco o autêntico judo de Jigoro Kano foi ensinado por toda a parte. O período desportivo começava.



Em 1949 é fundada a Federação Japonesa de Judo cuja sede fica a funcionar no Kodokan. Os kata do Butokukai desaparecem para passarem a ser reconhecidos, exclusivamente, os do Kodokan. Cada país organizava a sua própria federação nacional. Com a fundação da Federação Internacional de Judo em 1951, o Judo irá começar a ganhar uma verdadeira dimensão internacional.

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