25 novembro 2008

As lendas que inspiraram o Judo II

As Cerejeiras e o Salgueiro

Perto de Nagasaki vivia um médico filósofo chamado Shirobei-Akyama, que estava convencido que a origem dos males humanos resultava da má utilização do corpo e do espirito. Este percursor da medicina psicossomática partiu para a China para estudar as técnicas terapêuticas que diziam fazer milagres. Estudou os princípios do taoismo, da acupunctura e algumas técnicas do wu-chu, luta chinesa que utilizava as projecções, luxações e golpes, criada por um médico, tanto para o restabelecimento rápido dos convalescentes, como para o desenvolvimento harmonioso do corpo.
Quando voltou ao Japão, ensinou a alguns discípulos uma vintena de técnicas de reanimação e três ou quatro ataques, visando determinados pontos vitais. Compreendera o princípio positivo da filosofia taoista, assim como as suas aplicações práticas, quer na medicina quer na luta. Ao mal ele opunha o mal, à força a força.
No entanto, perante uma doença indefinida ou demasiado grave ou um adversário demasiado forte, os princípios chineses falhavam.
Abandonado pelos discípulos desiludidos, retirou-se para um pequeno templo onde impôs a si próprio uma meditação de cem dias. Durante esta ascese, em que o espirito de Shirobei atingiu uma tensão extraordinária, toda a filosofia chinesa, o yin e o yang, a acupunctura, e por fim, todos os métodos de combate foram postos em causa.
A questão que o torturava era a seguinte: Se quando ataco sou positivo, sou negativo quando sou atacado. Opor uma acção à outra não é vantajoso a não ser que possua uma força superior à força adversa. Como poderei então ser negativo em defesa se tomo a iniciativa da acção, logo tornando-me positivo e, neste caso, podendo a minha acção (positiva) ser aniquilada por uma acção positiva mais importante?
Quando passeava no jardim do templo, numa manhã em que nevava, escutando o estalido dos ramos de cerejeira que quebravam sob o peso da neve, de súbito, avistou um salgueiro na margem do ribeiro cujos ramos se curvavam sob o peso da neve, mas o tronco flexível logo se desembaraçava do seu fardo, retomando a posição inicial.
A solução surgiu-lhe como um relâmpago. Ao positivo devia opor-se o seu complemento – o negativo. À força devia opor-se a flexibilidade.
Se um assaltante nos empurra, não lhe façamos frente pela força que podendo ser maior que a nossa nos derrubaria, mas cedamos-lhe rapidamente com um pronto e inesperado recuo. O nosso adversário ao terá assim tentado arrombar uma porta aberta e desequilibrando-se, cairá aos nosso pés.
O mesmo princípio se aplica se formos puxados, podendo facilmente derrubar o nosso adversário que ficará em desequilíbrio se cedermos à sua tracção.
Shirobei aperfeiçoou então o ataque e a defesa, na luta corpo a corpo, e criou algumas centenas de golpes. Os seus discípulos propagaram os ensinamentos sob o nome de Yoshin-Ryu ou “Escola do Coração de Salgueiro”.

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