30 novembro 2008

Das origens do Ju-Jitsu ao Judo I

O Japão durante séculos viveu isolado do mundo.
Alguns historiadores japoneses afirmam que o ju-jitsu já existia no ano 660 AC. O registo mais antigo que se conhece sobre combate a mãos nuas refere-se a um combate realizado 230 AC, desenrolado perante o Imperador Suinin, em que Nomi No Sukume vence Taima No Kuemaya, matando-o aos pontapés.Tanto quanto se sabe, nenhuma regra bem precisa presidia a esses combates onde se utilizavam indistintamente técnicas de sumo, ju-jitsu e karate.

No entanto, o ju-jitsu, enquanto prática bem organizada, só aparece entre os séculos XIV e XVI.As artes marciais japonesas desenvolveram-se ao longo de um período de 700 anos, quando a classe militar dominava a política.

No século XV a civilização chinesa penetrou na Coreia e modificou profundamente a cultura nipónica.No Japão dirigido pelo Imperador, era o Shogun (governador militar) quem mandava. O país estava dividido em distritos militares pertencentes aos vassalos do Shogun, os Daymios que eram guerreiros temíveis. Muitas armas eram utilizadas consoante as regiões ou classes sociais. Por vezes era necessário continuar a lutar somente com as mãos.

A influência da cultura chinesa no combate a mãos nuas foi considerável. A china aplicava métodos de luta aperfeiçoados, baseados na filosofia de Tao, na medicina e na ciência em geral. Os sábios consideravam o universo e tudo o que nele se encontrava como a união harmoniosa de duas forças contrárias: o yin e o yang. Mas nada no universo é somente yin ou yang, antes todas as coisas são simultaneamente yin e yang. Assim, nada é absolutamente estável ou fixo e o universo nunca está em repouso, procurando constantemente o equilíbrio entre as forças positivas e negativas. Foi com base nesta filosofia que os chineses desenvolveram dois métodos de combate: um positivo (ataque), outro negativo (defesa). Este último consistia em esgotar o adversário pela não resistência, podendo depois ser rapidamente dominado por um ataque positivo.

Esta teoria não foi imediatamente compreendida pelos japoneses que, com medo de perderem a confiança na sua força, depressa assimilaram e desenvolveram os atemis e alguns ataques directos. Estes métodos prevaleceram até ao século XVII. Depois, pouco a pouco, a técnica melhorou.

Aquando da criação do bushido, o ju-jitsu tornou-se realmente a “prática da ligeireza”. Até então os samurais tinham desprezado este género de luta, considerando-a só digna dos kachis, os que andavam a pé. Mas, pouco a pouco, a cultura budista influenciou o clima espiritual desta elite de guerreiros. Estes, os bushis, submetidos às regras de disciplina severas juram fidelidade a um código de honra muito rigoroso: o bushido, a vida dum guerreiro. Este código influenciou durante muito tempo o espírito dos nobres samurais e ensinou aos japoneses, até aos nossos dias, as suas virtudes cavalheirescas.

É sobretudo durante época Edo, (1615-1868), que o ju-jitsu formou a sua verdadeira essência.Quando o Shogunato de Edo unificou o país no início do século XVII, a estabilidade subsequente debilitou o espírito militar das bujutsu.Assim os praticantes de artes marciais aperfeiçoaram a sua técnica através do treino de kata, tentando simultaneamente, atingir um estado de mente ideal com base nos ensinamentos Zen e de Confúcio. Por outras palavras as bujutsu evoluíram para budo, que incluíam uma filosofia de adesão a um estilo de vida.

Novas escolas concentraram-se no treino de formas de combate mas usando armadura e espadas de bambu (shinai). Os samurais, para substituírem os campos de batalha, acorreram aos dojos. Foi um tempo de desenvolvimento da técnica e do espírito. As bases definitivas do que viria a ser o judo, estavam já lançadas. Assim, a escola Tenjinshinyo-ryu, classificou as técnicas de katame-waza (controle), shime-waza (estrangulamento) e de atemi-waza (golpes) que serão as primeiras bases de trabalho de Jigoro Kano.

De igual forma, o princípio do nage-waza (projecções), princípio da suavidade, eram a base da escola Yoshin-ryu (escola do coração de salgueiro), criada por Shirohei Akiyama.

Por fim, também os fundamentos da escola Kito-ryu, estão presentes no judo actual, através do Koshiki-no-kata.

Quanto ao espírito das técnicas, já constava também nos arquivos de muitas escolas antigas de ju-jitsu, onde se procurava mais a elevação humana que o combate real.

A escola Jikinshin-ryu, e mais algumas outras, tinham já adoptado a palavra “ju-do” antes que esta palavra se tornasse popular. Nela encontramos “do” que significa “via” da perfeição, e “ju”, princípio da “suavidade”, tanto físico como mental, onde já estava presente o pensamento chinês de E-hui, que vê o mundo num equilíbrio permanente entre o yang (princípio positivo) e o yin (princípio negativo), ou entre o “go” (duro) e o “ju” (suave).

Contudo cada escola guardava ciosamente os seus segredos e transmissão dos conhecimentos fazia-se quase sempre por via oral.

Este estado coisas prolongou-se até ao fim do período feudal, 1867.

A partir da última metade do século XVIII, o desejo de mudanças políticas e a pressão exercida por nações estrangeiras geraram um ressurgimento das bujutsu. Logo, as artes marciais passaram a ser ensinadas em escolas estabelecidas em domínios feudais por todo o Japão.

Também se praticava o jiu-jitsu em escolas famosas, todas elas promovendo o ideal expresso na frase “Ju, yoku go wo seisu” (o fraco pode sobrepor-se o forte). As budo e as bujutsu quase desapareceram no início da Era Meiji (1868-1912). Com a restauração do imperador Meiji e o estabelecimento da Era Meiji o Japão abriu-se a todas as influências estrangeiras e rejeitou as suas próprias tradições. O Imperador Mutsu-Hito (1867-1912) introduziu no Japão a civilização ocidental.

Em poucos anos o país adoptou as ciências, artes e técnicas da Europa com um entusiasmo extraordinário.Em consequência tudo o que datava do velho regime foi considerado com mau olhar e as artes marciais foram abandonadas com desprezo. 1868 foi um ano terrível para todas as artes marciais.

As artes do budo perderam todo o prestígio no seu próprio país, suplantadas pela vaga de modernismo, muitas escolas de ju-jitsu desapareceram e os samurais são interditos no Japão. Os últimos mestres sobreviviam com muita dificuldade e completamente abandonados. Os maiores mestres da época ensinavam a sua arte a certos corpos especiais do exército assim como da polícia.

Mas esta fúria de viver à ocidental originou um relaxamento dos costumes e a tradição cavalheiresca desapareceu, levando com ela as artes marciais.

Foi nestes tempos difíceis que cresceu Jigoro Kano. O seu papel não se confinou a realizar somente uma síntese coerente de velhas técnicas esquecidas de ju-jitsu; ele lançou definitivamente a ideia de que as artes marciais ultrapassavam largamente o plano físico e aquilo que ele, agora, chamava “judo” (o sufixo “do”, a “via”, substituindo definitivamente “jitsu”, a “técnica”) podia ser um meio fantástico de desenvolvimento moral para o indivíduo em primeiro lugar, e para o conjunto da sociedade em seguida.

É este elevado ideal que evitará que esta velha arte marcial caia no esquecimento.

As lendas que inspiraram o Judo III


A Visão de Takenuchi

Takenuchi Hisamori era excelente na arte do jo-jitsu (varapau).
Desejoso de se aperfeiçoar, retirou-se para um templo perdido nas montanhas, onde se dedicou a estudar a técnica de ataque com varapau, exercitando-se atacando sem cessar uma grande árvore.De pé, arma ao lado, concentrava-se e brandindo o varapau, deslocando-se com ligeireza até ao pé da árvore, atacava-a então com força e rapidez com a duração de, não mais que uma fracção de segundo.Após aperfeiçoar a forma correcta de se deslocar e bater com precisão, entregava-se a este exercício, forma de uchikomi, durante horas a fio, sem descanso, num estado de completa vacuidade mental.
Uma tarde, completamente exausto, deixou-se cair ao pé da árvore e adormeceu.
Foi então que, não se sabe saído de onde, um misterioso monge errante explicou ao adormecido Takenuchi que ele devia reduzir o tamanho do varapau para ganhar rapidez e precisão, como se deslocar mais rapidamente, aproveitando os erros do adversário e empregando ou um varapau curto ou uma espada muito pequena. Finalmente ensinou-lhe cinco formas de imobilizar o adversário.
Depois, a estranha personagem desapareceu.
Na realidade o cérebro de Takenuchi acabara de operar a síntese de todos os reflexos acumulados pela experiência.
Takenouchi não tardou a criar o gokusoku ou “arte de combater sem armadura”.
Estas técnicas permitiram desenvolver as artes marciais tais como o aiki-jitsu, o tam-bô, etc.
A influência desta escola, cujos ensinamentos foram transmitidos até aos nossos dias por tradição oral, no ju-jitsu foi inegável.

25 novembro 2008

As lendas que inspiraram o Judo II

As Cerejeiras e o Salgueiro

Perto de Nagasaki vivia um médico filósofo chamado Shirobei-Akyama, que estava convencido que a origem dos males humanos resultava da má utilização do corpo e do espirito. Este percursor da medicina psicossomática partiu para a China para estudar as técnicas terapêuticas que diziam fazer milagres. Estudou os princípios do taoismo, da acupunctura e algumas técnicas do wu-chu, luta chinesa que utilizava as projecções, luxações e golpes, criada por um médico, tanto para o restabelecimento rápido dos convalescentes, como para o desenvolvimento harmonioso do corpo.
Quando voltou ao Japão, ensinou a alguns discípulos uma vintena de técnicas de reanimação e três ou quatro ataques, visando determinados pontos vitais. Compreendera o princípio positivo da filosofia taoista, assim como as suas aplicações práticas, quer na medicina quer na luta. Ao mal ele opunha o mal, à força a força.
No entanto, perante uma doença indefinida ou demasiado grave ou um adversário demasiado forte, os princípios chineses falhavam.
Abandonado pelos discípulos desiludidos, retirou-se para um pequeno templo onde impôs a si próprio uma meditação de cem dias. Durante esta ascese, em que o espirito de Shirobei atingiu uma tensão extraordinária, toda a filosofia chinesa, o yin e o yang, a acupunctura, e por fim, todos os métodos de combate foram postos em causa.
A questão que o torturava era a seguinte: Se quando ataco sou positivo, sou negativo quando sou atacado. Opor uma acção à outra não é vantajoso a não ser que possua uma força superior à força adversa. Como poderei então ser negativo em defesa se tomo a iniciativa da acção, logo tornando-me positivo e, neste caso, podendo a minha acção (positiva) ser aniquilada por uma acção positiva mais importante?
Quando passeava no jardim do templo, numa manhã em que nevava, escutando o estalido dos ramos de cerejeira que quebravam sob o peso da neve, de súbito, avistou um salgueiro na margem do ribeiro cujos ramos se curvavam sob o peso da neve, mas o tronco flexível logo se desembaraçava do seu fardo, retomando a posição inicial.
A solução surgiu-lhe como um relâmpago. Ao positivo devia opor-se o seu complemento – o negativo. À força devia opor-se a flexibilidade.
Se um assaltante nos empurra, não lhe façamos frente pela força que podendo ser maior que a nossa nos derrubaria, mas cedamos-lhe rapidamente com um pronto e inesperado recuo. O nosso adversário ao terá assim tentado arrombar uma porta aberta e desequilibrando-se, cairá aos nosso pés.
O mesmo princípio se aplica se formos puxados, podendo facilmente derrubar o nosso adversário que ficará em desequilíbrio se cedermos à sua tracção.
Shirobei aperfeiçoou então o ataque e a defesa, na luta corpo a corpo, e criou algumas centenas de golpes. Os seus discípulos propagaram os ensinamentos sob o nome de Yoshin-Ryu ou “Escola do Coração de Salgueiro”.

24 novembro 2008

As lendas que inspiraram o Judo I


O Temível Segredo do Monge Chinês

Em 1650, o letrado bonzo chinês Chen Yung Ping, instalou-se no templo Kokushogi, na região de Edo, hoje Tóquio, com o propósito de ensinar aos japoneses cultos, a caligrafia e a filosofia chinesa.
Naquela época Edo era considerada a capital militar do Império, sendo frequentemente visitada pelos samurais - equivalentes aos nossos cavaleiros da idade média - que eram excelentes em todas as artes marciais.
Entre eles, uma classe inferior, os kachis, estava encarregue de fazer bastantes vezes o papel de “força da ordem”.
Uma noite, em 1658, Chen Yung Ping, regressava de dar lições a um alto funcionário do Shogun, escoltado por três kachis a pé que traziam dois sabres. Quando o pequeno grupo ultrapassava as muralhas da cidade foi assaltado por bandidos armados de cacetes e punhais. Os três kachis, rapidamente desembainharam as espadas e rodearam o monge. Após um combate encarniçado os três kachis foram desarmados e era necessário lançarem-se numa luta corpo a corpo.
Então o inacreditável aconteceu.
Rápido como um relâmpago o pacífico, recatado e estudioso monge chinês atira-se aos agressores e derruba um bandido, depois outro e mais outro. Surpreendidos e aterrorizados, sem compreenderem o que lhes acontecia, os outros fugiram.
Estupefactos e incrédulos, mas cheios de admiração pelo monge, os três samurais reconduziram-no ao templo, pedindo que lhes confiasse o segredo da sua força. Mas durante todo o caminho Ping manteve-se em silêncio e, quando chegou ao seu destino, cumprimentou cerimoniosamente os seus guardiões e retirou-se.
Os kachis não desistiram e adormeceram à porta do templo
Na manhã seguinte renovaram o pedido ao monge que, sorrindo, lhes respondeu que a sua arte não era para espíritos simples, mas antes para almas fortes.
Os samurais insistiram de tal forma que, vendo o seu entusiasmo, Chen Yung Ping decidiu aceitá-los como discípulos.
Após um longo período de instrução, chamou cada kachi de per si, e no maior segredo, ensinou-lhes algumas técnicas temíveis.
Cada um estudou um método diferente, especializando-se um em projecções, outro em chaves e estrangulamentos e o terceiro em golpes aplicados a pontos vitais.
Percorrendo o Japão, os três kachis foram ensinando os seus terríveis conhecimentos.

20 novembro 2008

TORNEIO DE INFANTIS/INICIADOS ADJL

Pedro Roquete Andrade (esq.) e Rodrigo Pires (dir.)

No dia 16 de Novembro de 2008 decorreu no pavilhão do INATEL (Estádio 1º de Maio) em Lisboa, o Torneio de Infantis e Iniciados da Associação Distrital de Judo de Lisboa.

A ABVE concorreu com 5 judocas tendo obtido as seguintes brilhantes classificações:

⃗ INFANTIS (Nascidos em 1997)
2º Classificado – Rodrigo Pires
3º Classificado – Xavier Baptista
3º Classificado – Francisco Bolota

⃗ INICIADOS (Nascidos em 1996)
1º Classificado – Pedro Roquete Andrade
3º Classificado – Catarina Garcia


OBS. É de salientar mais um 1º lugar de Pedro Roquete Andrade que com 12 anos de idade e nas 6 provas que realizou conquistou cinco medalhas de ouro e uma de prata.